domingo, 8 de dezembro de 2013

Ciclos






"Adeus.... É tão difícil de dizer, aceitar mas se td na vida é um ciclo de começo, meio e fim logo iremos nos rever.... Até lá td é saudade." (Hh)



Há um tempo atrás me perguntei o que é vida, mas tentando não levar essa resposta para nenhum lado extremo, nem da ciência, nem da fé. O conceito de vida se diverge nas mais diversas maneiras ao redor do mundo...Até onde é vida??Até onde é obrigação social?? Por que relutamos em dizer adeus?
Tive a oportunidade de presenciar a partida de algumas pessoas, claro que toda despedida é sempre muito triste e dolorida aos que ficam. Independente do quanto dure as preliminares quando é chegado o momento, ele sempre chega repleto de tristeza. A grande certeza que temos é que um dia deixaremos tudo isso aqui, e por isso talvez a vontade do homem de deixar descendentes, obras, porque acredita que assim uma parte dele perpetuará.
Dividirei aqui a historia de Dona C. que vivia com sua filha,genro e netos,com seus 96 anos com cabelos grisalhos e olhar profundo de quem entendia a vida. Uma pessoa muito amada e querida por seus entes queridos.Não a conheci muito antes de sua despedida o pouco que eu sabia era relato ou comentários de terceiros.
Em uma comum tarde de domingo Dona C. deu seus primeiros sinais que iniciaria sua despedida, seu corpo começava avisar que aquela maquina começava a parar. Durante seu cafe da tarde ela parou de respirar,claro que chamaram socorro mais rápido possível,e no hospital recebeu o tratamento padrão. Ao passar do tempo ela oscilava entre melhora e piora. Desde o primeiro domingo ela ficou internada,a família sempre acompanhando,revezando,visitando. Até que veio a piora crescente e rápida, ali estava Dona C. em meio a tubo,agulhas,medicação,aparelhos...
Passei alguns momentos com ela, eu ficava ao lado dela conversando,rezando (a minha maneira) e por vezes apenas fazendo algum tipo de companhia.
Dado um momento eu olhei para ela e percebi que ali não havia mais luta e nem resiliência,ela estava ali estática , tiraram a medicação para ver se o corpo respondia e nada. Era como se a vida estivesse aprisionada implorando por liberdade,para que a deixassem ir...
Um dia presenciei a hora da visita familiar esse mesmo corpo estático entubado e com curativos se enxia de luz,afeto e saudade. A preocupação da filha se a mãe (tão amada) estava com frio, pois ela era friorenta e seu cabelo estava molhado; ela estava em uma sala com ar condicionado fora o fato de ser inverno.Logo depois perguntou a enfermeira se ela sentia alguma coisa naquele estágio...Ouvir aquilo cortou meu coração.
Ali eu não vi uma mulher mãe de família indo visitar sua mãe idosa; ali eu ví uma menina,com medo, se sentindo sem chão,com uma dor imensa abrigada em seu coração pela certeza que o adeus se aproxima cada dia mais. Quis poder abraça -la e voltar no tempo das lembranças felizes, mas não tenho esse poder então rezei,para que sua dor fosse transformada em afeto.
Passado mais alguns dias,a vida se libertou dos tubos e remédios,daquele quarto frio e cinza; a vida de Dona C. agora era infinita, não havia mais medo e dor, a vida voltou a ser grandiosa e plena como deve ser. Claro que aos que ficaram, essa noticia chegou juntamente com uma carga imensa de saudade,tristeza, dor e solidão.
Nos apoiamos com nossos familiares,amigos, companheiros , que inutilmente tentam minimizar nossa dor com algum tipo de fala clichê,conceitos prontos. Digo inútil porque é como se tentassem reduzir nossa dor,como se aquela frase fizesse tudo ficar bem novamente,quando na verdade a dor só passa quando estamos prontos para dizer adeus.
Temos dificuldade em deixar aqueles que fizeram parte de nossa historia,que foram/são nossa referencia. Quem inventou a despedida provavelmente não pensou na dor que ela causaria. Mas a vida só faz sentido se ela estiver livre,se estiver presente com corpo e alma do contrário não há existência .
Aprendamos a deixar partir para que esses sempre estejam conosco, nos guiando e orientando. Creio que no dia de nossa partida eles nos receberão com afeto e paciência para uma outra etapa de ensinamentos.

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