terça-feira, 5 de maio de 2020

Bedroom talk




Nossa quanto tempo...
Será que ainda sei juntar palavras que façam sentido?
Será que devo manter um blog pessoal ao meus 35 anos?
O que será que as pessoas mais próximas pensariam sobre isso?
Teria eu regredido? Surtado? Efeito da quarentena talvez, quem sabe?!...

Sim recém 35 anos sentada na mesma cadeira, na mesa em que eu costumava estudar na minha primeira graduação, sensação estranha de fracasso, de retrocesso. Pois é, aqui estou mesmo quarto, mesmo colchão, cabeceira diferente a janela de madeira continua sem vidro e o inverno está para chegar,mais um ano.

Uma estante com alguns livros que nunca li, e provavelmente nunca lerei, pois são chatos demais, quem sabe um dia. Ao lado o guarda- roupa modesto combinando no mesmo tom, de tristeza e solidão, três portas mais que suficiente, não gosto de ter muitas roupas, pois depois de ter me reduzido a quase nada,não tenho muitas companhias para sair, há sapatos semi-novos que mantenho, vai que ...  As roupas exalam medo, medo do futuro solitário que aparentemente assim está se revelando.

Na parte decor mantenho latinhas da pré - adolescência que vinha uma camiseta com estampa de algum cartoon do Looney Tunes, e um tatu bola de pelúcia, uma tentativa de me lembrar de quem eu era, e todas as promessas de um futuro organizado e bem sucedido. Eles tem cheiro de uma irritante esperança, que ainda há tempo. O que eles sabem?

Mas será? Minha vida já está traçada, e ao auge dos meus 35 falta- me energia e prepotência que eu tinha de sobra durante aos 20. Aliás cadê aquela moça prepotente, metida a sabichona e ingênua que acha que pode resolver tudo?

Me deixou também, cansou de minha teimosia, dos meus medos, ela deve estar por aí rindo sua risada mais insolente,dançando como quem namora com o caos,e andando desatenta esperando ser pega de surpresa pelo acaso.

Aqui estou como ela deixou, sem a muito a dizer, nem chorar,nem reclamar, assim seguimos a programação, dias vazios, rotinas que levam de salário em salário mas nada além disso. Um trabalho que é facilmente substituível, ainda olho para o horizonte mas recuo, altura me causa vertigem.

E assim vou me arrastando por mais dias vazios sem propósito, vendo os anos passarem, as dores no corpo aumentarem,os problemas aparecerem. O medo do fim é cada vez mais nítido,falar com estranhos passa ser uma solução.

Hum,nem tanto, silêncio dos inocentes é meu filme favorito, mas me deixou com medo, afinal ele está flertando porque gostou de mim ( o que por si só já estranho ), ou por que ele acha que eu sou um belo casaco?

E assim seguimos.